sábado, 30 de novembro de 2013

"Filho de peixe, peixinho é", uma ova!

Para mim, o tão famoso ditado popular "tal pai, tal filho" não faz sentido algum. Sempre que uma cria reflete as ações ou atitudes dos membros dos galhos acima de sua árvore genealógica, os bisbilhoteiros de plantão recorrem a tal ridículo ditado ou limitam-se ao velho e bom "Filho de peixe, peixinho é". Cara, isso é uma burrice sem tamanho. Veja bem meu caso. Eu, que sempre tentei me libertar dos laços burgueses e caretas, causei um rebuliço na sociedade brasileira do início do século XX. Eu e meus discípulos sempre corremos atrás do novo, do original, daquilo que conseguisse, se não plenamente, pelo menos quase, expressar o que de mais íntimo possa haver no espírito humano. Lutar por causas nobres que arrastassem uma avalanche de corações. Enfim, não é esse o ponto. Meu filho, sangue do meu sangue, cujo caráter tentei moldar com as virtudes mais dignas do ser humano, resolve fazer o que? Negar a própria origem. Andam dizendo por aí que ele é a mais nova novidade da nossa era. Rebelde, subversivo e dono de um egoísmo tamanho que me parte o coração ter que concordar. Individualista, vaidoso, dono de uma fome tremenda por esses produtos que fazem com que você se encante com a luz do céu projetada, mas se recuse a olhar para a janela. Esses dias mesmo, ele teve a coragem de me dizer que a vida era muito curta para ser um ativista ou simpatizante de uma causa maior; o importante mesmo era curtir, curtir o máximo que pudesse e cumprir o mínimo de obrigações exigidas pela sociedade. Disse que era interessantíssimo voltar a época ou reproduzir nos tempos de hoje a época em que a realidade era retratada tal como é nas obras de arte, mas,com uma pitada a mais: a realidade imitada deveria ser mais atrativa e sedutora do que ela própria. Como assim? Eu perguntei. "Façamos a ilustração de um bolo em sua embalagem mais bonita e colorida do que ele será ao vivo e a cores". Você quer dizer que devemos enganar o consumidor? "Não enganar. Deixar que ele próprio se engane ao negar sua futilidade e pobreza de espírito". Meu filho usa das formas e formatos para persuadir seus seguidores. Pincela com toques contemporâneos produtos que já estão no mercado há décadas. Ele não esconde seu fascínio pelo kitsch, pelo burguês, pela falsa adoração a cultura cult. Meu filho é o entusiasta melancólico, cabem tudo e todos e na mistura dos ingredientes a gente vê o que dá. O problema é que ele está achando ser a última bolacha do pacote, o desenlace com as vanguardas que lhe deram o nome. Sim, porque o Pós Modernismo também é conhecido como Modernismo Júnior.Ele pode tentar esconder, dissimular, mas ele nunca deixará de ser o que é: fruto do meu ser, sangue do meu sangue. Não nego, porém, que existam muitas diferenças entre nós; ele como todo filho, deseja se desvincular da caretice dos pais, buscar seu próprio caminho. Isso eu entendo. Mas, às vezes ele se esquece que eu sou o Modernismo e, que depois de mim, o que vier é apenas cópia.

domingo, 4 de agosto de 2013

Epílogo (Mario Quintana)

"Não, o melhor é não falares, não explicares coisa alguma. Tudo agora está suspenso. Nada aguenta mais nada. E sabe Deus o que é que desencadeia as catástrofes, o que é que derruba um castelo de cartas! Não se sabe...Umas vezes passa uma avalanche e não morre uma mosca...Outras vezes senta uma mosca e desaba uma cidade".

terça-feira, 6 de novembro de 2012

   Vivo tropeçando em uma questão que indubitavelmente todos os outros adultos pensantes também já se depararam em algum ou vários momentos da vida. Ela está em qualquer lugar, na boca de qualquer um. Uma simples expressão com um ponto de interrogação no final que nos leva a uma viagem pelos terrenos mais íngremes da consciência humana em busca de uma resposta cabível ao que realmente está sendo perguntado. "O que você deseja?"- de atendentes de lojas de departamento ao assopro da vela numa festinha de aniversário.
   Está por todo lado, todo mundo quer saber. Seria uma boneca, um emprego, um tênis novo? Que tal uma cervejada com um velho amigo para relembrar histórias que já estão carecas de contar? Seu desejo é válido e não custa nada. Mas me diz, está acima do plano material? Seria um amor, paz, pedido de perdão? Contato alienígena?
   Sempre fiquei muito encucada com esse tipo de indagação. É profundo e um tanto paradoxal. Posso desejar ao mesmo tempo coisas opostas que se chocarão lá na frente e sabe-se lá o resultado disso. Entretanto e finalmente, depois de colecionar um imenso acervo da mesmice dessas perguntas, encontrei meu ponto de partida.
   Meu grande e único desejo é ser dona de um cérebro poderoso. Um cérebro que utilize o máximo da sua capacidade cognitiva e não apenas esses míseros 10% (ou menos) que nós seres humanos estamos fadados a aceitar. Um cérebro grande, produtivo, extraordinariamente capaz de desenvolver e atingir o grau máximo de raciocínio. Um órgão que tenha a cara e a coragem para sair às ruas e enfrentar os psicopatas de colarinho, a mídia sufocante, as desigualdades socioculturais. Um órgão que ao parar e pensar - "Ei, peraí, isso tá errado" - não fique estagnado, mas que arregace as mangas e vá ao trabalho, grite ao mundo, compartilhe a indignação. Imagine a influência de um cérebro que aja sem medo das repressões posteriores, que não se frustre com as verdades omitidas e nem engula a comida que os chefões de Estado mastigam antes de despejarem em nossas mesas. Um cérebro forte e intocável pelas ameaças, capaz de discernir o que está por trás da venda que lhe tapa os olhos. Um cérebro de boa índole preparado para a barbárie universal.


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Malhando o cérebro

   Mulheres, em qual esquina do tempo o tamanho do diâmetro da sua coxa ou o quão fina é sua cintura ganhou mais importância em detrimento da quantidade de neurônios que ainda restam na sua massa encefálica? Em todos os indivíduos racionais do planeta Terra, tanto homens como mulheres, há um órgão escondido em nosso corpo que guarda a concentração de beleza mais admirável no ser humano. Por conter esse tesouro (nota-se que algumas pessoas nem sabem que existe e não fazem o mínimo de esforço para encontrá-lo), é protegido a sete chaves por um escudo forte e proeminente conhecido como crânio.
   Com a chegada do século XXI, as academias e spas foram extintas completamente da crosta terrestre. Não se encontram mais perdidos no meio dessa indústria da beleza lugares voltados puramente para exercícios físicos que visam a saúde do corpo num sentido holístico. O que se vê hoje, é um mercado estético que cresce quase que com a mesma velocidade que corre a luz. Precisa-se ganhar dinheiro e, obter lucro com a insatisfação física alheia é um bom negócio. 
   É por isso que a partir de agora devemos parar de cuidar do nosso corpinho tão querido e nos entregar às delícias e prazeres do universo fast-food e coca-cola. Não, não é isso. Absolutamente ninguém é obrigado a conviver e aceitar partes físicas do corpo que não lhe agradam, não fazem bem, não proporcionam plena satisfação. A autoestima é uma arma poderosa para a felicidade, mas não é necessariamente preciso se tornar uma panicat e seguir esse estilo de vida como se pernas, seios e bundas fossem deuses de uma religião a serem idolatrados. 
   Uma pergunta para o sexo masculino agora: quantas vezes já não olharam para uma mulher de corpo escultural, de dar inveja, de parar o trânsito da cidade inteira de São Paulo e te fazer usar um babador pra não babar na própria roupa? E quantas vezes, ao abrir a boca, essa mulher não destruiu todo o encantamento que havia lançado sobre os pobres mortais? E para as mulheres que se deixam conquistar e caem de quatro aos pés de fortões com a barriga que te faz implorar para lavar roupa, só uma coisa, ignorância se tornou obsoleta nos dias atuais.
   Isso tudo não é uma crítica desenfreada à quem cultua a beleza da forma. É bonito ter e é bonito ver um corpo bem trabalhado caminhando por aí. Entretanto, se esse corpo bem trabalhado nunca leu e nem pretende ler um livro, por mais que contenha mais imagens do que frases e parágrafos completos, então sim, essa é uma crítica sem freios e um salve à todas as magrinhas e cheinhas de plantão que estão mais interessadas em colecionar livros lidos do que centímetros ganhos na prática do agachamento.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A incivilidade movendo o mundo

   Batizada com sua cega e sagrada ignorância, a humanidade demorou incontáveis dezenas de milhares de anos para conseguir se organizar em sociedade civilizada e manter os hábitos do bom e velho convívio social. Há milhares de anos foi revelado ao homem a necessidade do outro para a sua própria manutenção e sobrevivência, porém com tanto tempo transcorrido, a civilidade ainda não bateu em todas as portas.
   Gestos como um simples bom dia entre estranhos, ceder qualquer lugar que seja para um idoso ou uma gestante, simplesmente não fazer tumulto na fila do ônibus são atos que praticamente se desfamiliarizaram para massas de indivíduos. Mas a incivilidade não anda apenas por trás das gentilezas suprimidas, chegamos a um ponto em que a ética, moral, higiêne, educação e senso de comportamento se desprenderam de seus reais significados.
   Nos chamados lugares públicos as pessoas não podem mais transitar e desfrutar do que por lei pertence a todos. Essa expressão virou sinônimo de vadiagem, agressão e sujeira gratuita. Calçadas alheias viraram privada para os animais de estimação, praças ao ar livre transformaram-se em palco de homicídios e o terreno baldio pode agora ser usado como lixão, ja que não pertence a ninguém, supõe-se.
   A intolerância religiosa, sexual, regional e pessoal que ainda possuía um mínimo de descrição ja não é suficiente para a população insatisfeita. Querem colocar a boca  no trombone mesmo, falar o que pensa, dizer o que vier na "telha" e por que não? A impunidade é uma utopia por aqui. Aliás, o Brasil é um lugar público então vamos avacalhar.
   Os revolucionários atuais que querem mudar drasticamente a sociedade em que vivem, confundem o conceito de anarquismo com bagunça e desrespeito. Precisamos ser governados, ao contrario destruiriamos uns aos outros. A humanidade não consegue estruturar-se sozinha, mas nada que alguns milênios não façam a diferença.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Igualdade amorosa

   Recentemente o Brasil mostrou ao resto do mundo que é mais do que um país de negócios, se tornou mais humano e acolhedor, conciliando justiça e respeito à toda população. Com a aprovação da união entre homossexuais pelo Supremo Tribunal Federal, firmou o conceito de igualdade que para alguns brasileiros ainda deixava a desejar.
  Uma nova época começa no país, uma época de amor e cidadania. São tempos onde qualquer um é livre para descobrir-se, revelar-se e amar sem limitações embora ainda exista, e imagino eu que sempre existirá, um preconceito esclarecido de grupos isolados.
   Infelizmente, tenho conhecidos e até pais de conhecidos que acham um absurdo tal aprovação, não disfarçam a homofobia e nem sequer tentam se informar mais sobre o assunto, ou melhor, ser mais sensível à situação. É uma pena conviver com pessoas que pensam que apenas homem e mulher têm o encaixe perfeito.
  Outra barreira para os homoafetivos é a Igreja Católica e alguns de seus adeptos. Não ataco a doutrina divina, pelo contrário, só penso que se Ele próprio pregava o amor, por que insignificantes seres humanos como nós iríamos impedi-lo de acontecer, independente dos sexos envolvidos?
  Precisamos ser mais flexíveis a ponto de ter a cabeça disponível para receber novas concepções. A humanidade só irá para frente se os próprios humanos derem o primeiro passo e derrubarem todos os obstáculos que os impedem de ser inteiramente felizes. Somos capazes de evoluir e somos capazes de respeitar o amor do próximo.