quarta-feira, 10 de junho de 2009

Libertação

   Basicamente, já estava conformada com aquela vida desprezível. Guardava aquele segredo de todos, era vergonhoso, repugnante. Revelar aquela bomba seria assumir um atestado de inferioridade, preferia deixar como estava, até que um dia ele finalmente cansasse. Quem a via na rua não imaginava que por trás daquele rosto bonito na verdade só restasse dor e um pedido de ajuda, fazia de tudo para que não transparecesse que estava sozinha, passava uma imagem forte, confiante, mas sabia que era totalmente o oposto.
   Não havia sequer um dia que não rezasse para aquele tormento parar. Deus entretanto, ou qualquer outra força superior, não a ouvia. Todas as suas preces e orações se tornavam ecos em seu quarto, com o tempo desistiu de pedir proteção.
   Mais uma noite, dessa vez estava preparada. Ouviu passos no corredor, já sabia que era ele vindo procurá-la. Ficou recostada na cama enquanto ele vinha lhe afagar o corpo, tampou sua boca com a mão direita e a penetrou. Ele sentia prazer, sentia-se excitado em machucá-la, era nojenta a forma que a tocava e nojenta a forma como gemia com cada orgasmo.
   Mas aquilo teria um fim...
   Enquanto ele fazia movimentos frenéticos em cima dela, enquanto ele abusava de alguém do seu próprio sangue, não hesitaria. Agora ela tinha coragem, a coragem que antes lhe era reprimida, não tinha medo de acabar com tudo aquilo, com uma faca que havia pegado da cozinha terminaria aquele caos. Agora poderia dormir sem se preocupar em deixar a porta aberta. Contou até três e cravou a faca nas costas do pai.

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