sábado, 20 de fevereiro de 2010

Acerto de contas

   Há quem tenha pena por eu estar sentado nesta cela, por eu ver todas as manhãs o sol nascer quadrado e por eu viver em conflito com o meu próprio ser. Sinceramente eu até prefiro que tenham essa compaixão pela minha suposta insanidade, nunca fui muito bom em compartilhar a felicidade e a paz de espírito, mas eu lhes asseguro, minha lucidez e minha honra só se firmaram mesmo quando perfurei aquela carne.
   Lembro de cada detalhe como se fosse a última coisa ocorrida nos segundos passados. Ela me desafiava com aqueles olhos traiçoeiros, entretanto, eu podia sentir o medo que lhe escorria pela espinha e a piedade que ela desejava desesperadamente.
   Agarrei-a pelos cabelos ondulados e comecei a esfolar sua pele lentamente até que seus gritos se tornassem cada vez mais estridentes. Ela se rendia e pedia por favor, mas eu só conseguia ouvir o som da minha risada que penetrava aquele cômodo como música celestial. Senti prazer ao ver aquele líquido vermelho deslizando pela pele clara e levei o sangue até a boca para saborear o gosto da vitória. Dei-lhe um último beijo na face e tracei um risco profundo em seu pescoço.
   Ninguém fica impune quando se destrói um coração.

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