quarta-feira, 21 de abril de 2010

Pontos

Linha.
Agulha.
Linha e agulha estão predispostas a trabalharem paralelamente consertando todas as falhas do passado. Remendam remorsos, escodem feridas, costuram os erros para que um novo presente seja formado esquecendo-se os deslizes cometidos. Linha e agulha. Agora já não há mais arrependimentos, culpas pesando o coração. Tudo se foi, tudo se criou novamente. Surge um novo ser, um ser humano livre de preocupações, acusações. O passado virou lenda, as mágoas se apagaram e a mente se fechou. Linha e agulha. Se uma nova fresta desabrocha reabrindo o que se fechou, entram em ação novamente pondo em ordem o desordenado. Dever cumprido, é assim que tem que ser. Entretanto, linha e agulha olham o trabalho feito e não gostam da imagem vista, não. Muitos pontos agrupados, mal colocados. Concluem elas que são cicatrizes. Cicatrizes de um passado esquecido, enxotado. Cicatrizes de lembranças impagáveis mas apagadas, riscadas da alma e do tempo.
Linha.
Agulha.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Fim de jogo

   Manipulo precisamente cada peão do meu tabuleiro. Jogada certeira, fatal. Cada passo é estudado, milimetrizado para não haver vestígios de derrota. Conheço o adversário, cada um deles. Conheço cada ideia, cada movimento estrategicamente planejado. Penso como eles, jogo como eles, sinto e analiso como cada um. Blefo, que bela ferramenta. Tombo-os lentamente abrindo passagem pelos demais, estes recuam, enfraquecem. Vou recolhendo suas dignidades que se perderam em meio o preto e o branco sob os pés, honra, moral espalhadas pelo chão. Tropeço em algumas delas, mas consigo alcançar a outra extremidade da disputa. Arrisco uma olhadela, contemplo os corpos que estirei. O alívio penetra, o orgulho absorve. Xeque mate!