terça-feira, 6 de novembro de 2012

   Vivo tropeçando em uma questão que indubitavelmente todos os outros adultos pensantes também já se depararam em algum ou vários momentos da vida. Ela está em qualquer lugar, na boca de qualquer um. Uma simples expressão com um ponto de interrogação no final que nos leva a uma viagem pelos terrenos mais íngremes da consciência humana em busca de uma resposta cabível ao que realmente está sendo perguntado. "O que você deseja?"- de atendentes de lojas de departamento ao assopro da vela numa festinha de aniversário.
   Está por todo lado, todo mundo quer saber. Seria uma boneca, um emprego, um tênis novo? Que tal uma cervejada com um velho amigo para relembrar histórias que já estão carecas de contar? Seu desejo é válido e não custa nada. Mas me diz, está acima do plano material? Seria um amor, paz, pedido de perdão? Contato alienígena?
   Sempre fiquei muito encucada com esse tipo de indagação. É profundo e um tanto paradoxal. Posso desejar ao mesmo tempo coisas opostas que se chocarão lá na frente e sabe-se lá o resultado disso. Entretanto e finalmente, depois de colecionar um imenso acervo da mesmice dessas perguntas, encontrei meu ponto de partida.
   Meu grande e único desejo é ser dona de um cérebro poderoso. Um cérebro que utilize o máximo da sua capacidade cognitiva e não apenas esses míseros 10% (ou menos) que nós seres humanos estamos fadados a aceitar. Um cérebro grande, produtivo, extraordinariamente capaz de desenvolver e atingir o grau máximo de raciocínio. Um órgão que tenha a cara e a coragem para sair às ruas e enfrentar os psicopatas de colarinho, a mídia sufocante, as desigualdades socioculturais. Um órgão que ao parar e pensar - "Ei, peraí, isso tá errado" - não fique estagnado, mas que arregace as mangas e vá ao trabalho, grite ao mundo, compartilhe a indignação. Imagine a influência de um cérebro que aja sem medo das repressões posteriores, que não se frustre com as verdades omitidas e nem engula a comida que os chefões de Estado mastigam antes de despejarem em nossas mesas. Um cérebro forte e intocável pelas ameaças, capaz de discernir o que está por trás da venda que lhe tapa os olhos. Um cérebro de boa índole preparado para a barbárie universal.


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Malhando o cérebro

   Mulheres, em qual esquina do tempo o tamanho do diâmetro da sua coxa ou o quão fina é sua cintura ganhou mais importância em detrimento da quantidade de neurônios que ainda restam na sua massa encefálica? Em todos os indivíduos racionais do planeta Terra, tanto homens como mulheres, há um órgão escondido em nosso corpo que guarda a concentração de beleza mais admirável no ser humano. Por conter esse tesouro (nota-se que algumas pessoas nem sabem que existe e não fazem o mínimo de esforço para encontrá-lo), é protegido a sete chaves por um escudo forte e proeminente conhecido como crânio.
   Com a chegada do século XXI, as academias e spas foram extintas completamente da crosta terrestre. Não se encontram mais perdidos no meio dessa indústria da beleza lugares voltados puramente para exercícios físicos que visam a saúde do corpo num sentido holístico. O que se vê hoje, é um mercado estético que cresce quase que com a mesma velocidade que corre a luz. Precisa-se ganhar dinheiro e, obter lucro com a insatisfação física alheia é um bom negócio. 
   É por isso que a partir de agora devemos parar de cuidar do nosso corpinho tão querido e nos entregar às delícias e prazeres do universo fast-food e coca-cola. Não, não é isso. Absolutamente ninguém é obrigado a conviver e aceitar partes físicas do corpo que não lhe agradam, não fazem bem, não proporcionam plena satisfação. A autoestima é uma arma poderosa para a felicidade, mas não é necessariamente preciso se tornar uma panicat e seguir esse estilo de vida como se pernas, seios e bundas fossem deuses de uma religião a serem idolatrados. 
   Uma pergunta para o sexo masculino agora: quantas vezes já não olharam para uma mulher de corpo escultural, de dar inveja, de parar o trânsito da cidade inteira de São Paulo e te fazer usar um babador pra não babar na própria roupa? E quantas vezes, ao abrir a boca, essa mulher não destruiu todo o encantamento que havia lançado sobre os pobres mortais? E para as mulheres que se deixam conquistar e caem de quatro aos pés de fortões com a barriga que te faz implorar para lavar roupa, só uma coisa, ignorância se tornou obsoleta nos dias atuais.
   Isso tudo não é uma crítica desenfreada à quem cultua a beleza da forma. É bonito ter e é bonito ver um corpo bem trabalhado caminhando por aí. Entretanto, se esse corpo bem trabalhado nunca leu e nem pretende ler um livro, por mais que contenha mais imagens do que frases e parágrafos completos, então sim, essa é uma crítica sem freios e um salve à todas as magrinhas e cheinhas de plantão que estão mais interessadas em colecionar livros lidos do que centímetros ganhos na prática do agachamento.